
Leitura Literária na Escola
Um mergulho às delicadas ondas literárias. Seja bem- vindo!
Você está acessando a um espaço voltado para professores, curiosos e
apreciadores de literatura. Sinta-se envolto pela maresia das letras!
O conto como provocação

MEDO
Mestranda: Elaine Lopes de Oliveira Tavares.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Célia Sebastiana da Silva.
Número de alunos envolvidos na pesquisa: 10.
Série trabalhada: 7º ano do Ensino Fundamental II.
2ª sequência didática aplicada – análise do conto Medo
Obra explorada: Aquela água toda, de João Anzanello Carrascoza
OBJETIVOS A SEREM ALCANÇADOS COM A SEGUNDA ANÁLISE
A sequência didática elaborada em duas seções tem por objetivo principal analisar o medo que nos
assombra em todas as fases de nossas vidas. Para este fim, faz-se necessária a elaboração do conceito objetivo e conciso da palavra medo a partir do conceito freudiano, que defende o posicionamento de que, por meio da angústia, tentamos nos salvaguardar dos mais diversos medos. Conforme o pensamento do psicanalista, “Portanto poderíamos dizer que uma pessoa se protege do pavor por meio da angústia” (FREUD, 1996, p. 461). Para além da discussão desse sentimento, faz-se necessário também trabalhar, por intermédio da leitura literária em pauta, temas como o bullying, já que o conto de Carrascoza aborda o universo do medo vivido pelo personagem em momentos diferenciados de sua vida, em especial, na escola.
-
Oferecer ao aluno a leitura do conto Medo, do escritor Anzanello Carrascoza, a partir da mediação da professora;
-
Incitar a descrição dos elementos que o autor utilizou para criar no conto uma atmosfera de suspense, medo e angústia a fim de despertar a sensação de desconforto no sujeito-leitor;
-
Propiciar ao aluno, através da reelaboração do conceito de medo, a reflexão sobre as situações ocorridas no dia a dia, principalmente no espaço da escolar. Destacar a situação de bullying hoje em dia e comum nos espaços sociais; ressaltar o comportamento dos dois personagens, principalmente o do protagonista;
-
Desenvolver atividades relacionadas ao reconhecimento de elementos importantes da narrativa, tal como o conflito da história em análise;
-
Discutir e produzir poemas a partir das percepções dos alunos- participantes da pesquisa.
PROPOSTAS METODOLÓGICAS E DE PRODUÇÃO
1ª aula
1º momento – Fazer a leitura do texto de forma a incitar a reflexão sobre o universo das sensações de medo, angústia e suspense apresentados no conto.
2º momento – Para iniciar um diálogo sobre a leitura, os alunos serão convidados a se sentar em círculo a fim de participarem da oficina Do que você tem medo?
FREUD (1996, p. 93), em “O mal-estar na civilização”, já enumerava três possíveis fontes do sofrimento e, por consequência, do medo, no ser humano: nosso próprio corpo, condenado à decadência e à dissolução; o mundo externo, que pode voltar-se contra nós, com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; e as ações e atitudes dos outros homens.
Por detrás de cada uma dessas fontes de medo é que nos apoiaremos, e, especificamente, na última citada, para compor o segundo momento da atividade. Os alunos deverão fazer uma declaração de seus principais medos. Essa declaração deverá ser respeitada mesmo que ela se repita de aluno para aluno. Além disso, por parte da professora pesquisadora, será relacionado o subtema “Bullying na escola”, abordagem extremamente interligada à realidade dos alunos e ao elemento norteador do conflito do conto analisado.
3º momento – Pelo recurso do projetor de imagens, será exibido o poema Medo, de Carlos Drummond de Andrade. A leitura será realizada de forma alternada pelos alunos.
O Medo
Em verdade temos medo.
Nascemos no escuro.
As existências são poucas;
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
Vadeamos.
Somos apenas uns homens e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.
Refugiamo-nos no amor,
Este célebre sentimento,
E o amor faltou: chovia,
Ventava, fazia frio em São Paulo.
Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
Nos dissimula e nos berça.
Fiquei com medo de ti,
Meu companheiro moreno.
De nós, de vós, e de tudo.
Estou com medo da honra.
Assim nos criam burgueses.
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?
Vem, harmonia do medo,
Vem, ó terror das estradas,
Susto na noite, receio
De águas poluídas. Muletas
Do homem só.
Ajudai-nos, lentos poderes do
Láudano.
Até a canção medrosa se parte,
Se transe e cala-se.
Faremos casas de medo,
Duros tijolos de medo,
Medrosos caules, repuxos,
Ruas só de medo, e calma.
E com asas de prudência,
Com resplendores covardes,
Atingiremos o cimo
De nossa cauta subida.
O medo com sua física,
Tanto produz: carcereiros,
Edifícios, escritores,
Este poema,
Outras vidas.
Tenhamos o maior pavor.
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.
Adeus: vamos para a frente,
Recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,
Eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
Dançando o baile do medo.
Fonte: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/medo.htm>Acesso em 20 de julho de 2016.
Depois da leitura poética, para iniciar um diálogo com os aprendizes, serão feitas oralmente as seguintes perguntas:
-
Qual é a semelhança entre o poema de Drummond e o conto de Anzanello Carrascoza?
-
Que tipos de angústias estão relacionados no conto e no poema?
-
O poema apresenta uma posição muito clara com relação ao medo. Essa posição também aparece no conto?
-
Os conflitos abordados tanto no poema e quanto no conto são os mesmos? Por quê?
-
Hoje, qual é o seu principal medo? O que pode ser feito para que você o vença?
-
Na escola, que tipo de medo sente em seu dia a dia?
2ª aula
4º momento – Retomada da discussão levantada na aula anterior sobre o momento De que você tem medo?
5º momento – Com base nos diálogos e de acordo com os medos manifestados pelos alunos na aula anterior, será solicitada a confecção de um poema que aborde o tema gerador das discussões realizadas. O poema será produzido em sala e alguns deles serão postados em um site, produto final da pesquisa.